sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Fantasmas


Dor? Culpa? Amor? O que os fantasmas do nosso passado poderiam nos trazer a tona? Poderiam de repente trazer sentimentos e memórias que a muito foram abandonados e esquecidos em algum canto escuro e vazio da nossa mente? E se ambos voltassem para nos assombrar? Até que ponto poderíamos agüentar encarar a verdade que gostaríamos de esconder? Eles estão lá, estão sempre lá, seus fantasmas, suas lembranças, seus sentimentos mais profundos, e não vão te deixar em paz, estão lá para te assombrar.

Autor: Ana Caroline Recalde (Odette) (EU MESMA)
Link: Fantasmas





O que é o destino? Nosso futuro poderia ser planejado? Ele poderia ser decidido precipitadamente e não importam quais sejam suas escolhas, ele sempre será aquilo o que o universo quer?

Mas o que é futuro? Como chegar até ele? Que caminho trilhar? Que escolhas fazer? Não podemos construí-lo sem antes caminhar por uma longa estrada. E o que está no caminho dela? Conforme damos nossos passos nessa longa estrada chamada Vida, deixamos marcas, marcas que nos acompanharão mesmo que relutemos em deixá-las para trás, alguns conseguem esquecê-las, mas outros estão presos a elas e dificilmente conseguem se desprender das mesmas, as marcas, as quais muitos chamam de Passado.

E o que é o Passado? Dependemos de sua existência, sem ele não estaríamos aqui, não é mesmo? Não chegaríamos tão longe se não nos lembrássemos de todos os caminhos que percorremos até aqui. Mas não era assim para algumas pessoas, muitos passados estavam guardados no canto mais profundo e escondido de suas mentes, lembranças e sentimentos que gostariam de esquecer. E quem são essas pessoas? Elas estão por aí, em todo lugar, pode até mesmo você ser uma delas. Pode ser você assombrado pelos seus fantasmas particulares.

Era um outono como outro qualquer na cidade de Nova Iorque, fazia um pouco de frio naquela manhã de domingo, e deitada na banheira quente, cuja qual havia entrado com dificuldade, estava Harriet Brown, com os olhos cansados e envoltos pelas profundas olheiras ela observava a luz do dia que entrava pela pequena janela no alto da parede do banheiro. Ela conseguia ver apenas a cor do céu, já que morava no vigésimo andar, às vezes via alguns pássaros.

Já fazia um bom tempo que estava ali inerte, as terapias que vinha fazendo nos últimos anos e os remédios que estava tomando talvez não estivessem sendo o suficiente. Ela havia parado de ir aos especialistas há algumas semanas. Sua depressão e seu corpo estavam cada vez piores e as esperanças que ela tinha haviam sumido completamente. Seu físico e seu psicológico estavam destruídos.

As memórias que ela gostaria de apagar ainda estavam lúcidas em sua mente, fantasmas que poderiam lhe assombrar pelo resto da vida.

Dois anos antes

–Harriet!- Chamou Robert.

–Já vou!- Disse enquanto descia as escadas apressadamente.

–Venha vamos nos atrasar.- Disse passando o braço pelo seu ombro e a levando até o carro.

Pararam em frente a um teatro, Harriet era uma bailarina clássica, e com uma carreira promissora, junto ao seu parceiro de dança e namorado, Robert. A jovem desceu do carro e correu entrando no teatro, seguida por Robert.

–Ótimo, não estamos atrasados.- Disse enquanto colocava suas sapatilhas.

Era um dia importante para Harriet, ela faria o teste para um papel no ballet La Bayadére, e se passasse seria sua oportunidade para crescer em sua carreira. Estava na Companhia do Teatro de Nova Iorque há dois anos e se passasse no teste esse seria seu primeiro papel fora do corpo de baile e uma passagem para novas oportunidades.

Depois de passar pelos ensaios árduos, seu coração batia tão rápido que ela pensara que ele pularia para fora de seu peito a qualquer momento, as gotas de suor escorriam pela sua testa e seus olhos estavam estáticos enquanto esperava que o coreógrafo escolhesse as solistas.

A espera dos nomes que seriam chamados parecia durar uma eternidade, não só para ela, mas para as outras bailarinas, que assim como ela torciam para que finalmente colocassem a mostra mais do seu trabalho, o qual lutaram por anos até chegarem onde estavam.

Os nomes começaram a ser chamados seguidos do papel que representariam, e finalmente as palavras que Harriet queria ouvir soaram como uma doce melodia em seus ouvidos, havia sido escolhida para um dos papéis mais cobiçados do ballet, não era o papel principal, mas era um dos mais importantes e ele finalmente era de Harriet. Robert havia recebido o papel de um dos protagonistas e estava tão feliz quanto sua namorada.

Depois dos ensaios e das aulas todos saíram do teatro, e com o espírito de equipe que tinham, parabenizavam uns aos outros enquanto comentavam sobre o ballet. Harriet e Robert ficaram mais alguns minutos conversando com os outros bailarinos e depois foram juntos a um refinado restaurante, não muito longe do teatro, para comemorarem.

–Então, está muito feliz não é?- Perguntou Robert com um sorriso enquanto tomava sua taça de champanhe.

–Você não imagina como.- Respondeu entusiasmada.

–Posso ver o brilho no seu olhar.- Harriet riu.- Sabe que agora o Andrew vai pegar mais ainda no seu pé.

–Mais do que ele já pegava?- Riu.- Será que meus pés vão sobreviver?- Ambos riram e depois se encararam daquele modo que apenas eles sabiam, havia algo especial quando o olhar dos dois se encontrava. Ela havia conhecido Robert um ano antes de entrar na companhia quando ele já trabalhava lá, se viram pela primeira vez em um festival, começaram a conversar e trocaram telefones, alguns meses depois começaram a namorar.

–Eu te amo.- Declarou Robert, como sempre fazia.

–Eu também te amo.- Sorriu.

–Harriet...- Ele a encarou por alguns segundos até tomar fôlego para continuar.- Nós estamos juntos a dois anos, você sabe e...- Harriet o olhava curiosa.- E foram os melhores anos da minha vida e quero que os próximos também continuem sendo, com você ao meu lado.- Ele segurou as mãos de Harriet que sorria bobamente.- Eu sei que ainda somos muito jovens, mas eu quero ficar com você, não importa como. Eu tinha achado que seria melhor esperar, mas eu quis aproveitar esse momento em que estamos realizando nossos sonhos para poder realizar outro sonho que acho que também é seu.- Ele respirou fundo.- Harriet você quer casar comigo?

Harriet arregalou os olhos e encarou Robert como se não acreditasse nas palavras que acabara de ouvir, e logo em seguida, saindo de seu transe, abriu um enorme sorriso e pulou para abraçá-lo.

–Sim!- E trocaram um beijo apaixonado.”


Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Harriet ao olhar o anel na sua mão direita, que Robert havia lhe comprado um dia depois do pedido. Aquele anel pesava em seu dedo, junto a toda dor que sentia em seu coração destruído.

Mas será que as nossas assombrações trazem apenas um fragmento de todo uma vida? Ou será que também pode fazer pesar em nossa consciência tudo o que vivemos?

A vida de Harriet passava em sua mente como um filme, e para ela um filme com o pior enredo e final de todos. Tudo parecia que ia ficar bem, sonhos, escolhas, sacrifícios, dores e amores, e tudo isso pra que? Para que no final ela se condenasse a ficar naquele estado deplorável?

Ela se lembrava de cada decisão que teve que tomar, cada sacrifício que fez, tudo o que teve que passar para ir em busca de um sonho que fora destruído. As lembranças de sua família, de seu amado noivo, de sua brilhante carreira, de seus medos, suas dores, todos reunidos em um único espaço que lhe causava mais dor do que ela conseguia agüentar.

“La Bayadere estava fazendo grande sucesso em Nova Iorque e em algumas cidades vizinhas nos últimos meses. Harriet ficava encantada a cada aplauso que ouvia, a cada olhar que ela encantava enquanto dançava, não existia nada melhor do que ter seu trabalho reconhecido.

O sucesso do ballet estava abrindo portas, não só para Harriet, mas para todos os bailarinos da companhia, e claro essas portas também se abriam para além da fronteira, Harriet faria sua primeira apresentação fora do país.

Todos saíram para jantar naquela noite, eles riam e conversavam felizes, Harriet comentava com suas amigas alguns planos para o casamento. O casamento de Harriet e Robert teria que esperar um pouco, já que eles estavam muito ocupados com o trabalho, não que isso pudesse interferir exageradamente em suas vidas, mas eles queriam que fosse um dia inesquecível, e para isso precisariam de alguns dias livres.

Na manhã seguinte todos estavam em alvoroço, Harriet e Robert corriam com suas malas até o carro, tinham que estar no aeroporto o mais rápido possível. A mãe de Harriet era a única família que ela tinha, e iria acompanhá-la na viagem. Robert e Harriet entraram no carro e seguiram caminho, durante o percurso eles escutavam música, o que ajudava a acalmar seus nervos, todos estavam muito felizes. Harriet não parava de conversar alegremente com a mãe.

Tudo estava bem e calmo, mas um golpe do destino estava para mudar a vida de todos para sempre. Assim que percebeu o caminhão desgovernado bem próximo ao carro, Robert tentou desviar, o que só pioraria a situação, ele não desviou a tempo. Harriet não tinha muitas lembranças daquele momento, apenas de ser chacoalhada várias vezes e depois parar, quando desmaiou.

Ela acordou em uma cama de hospital, alguns dias depois, seu corpo doía um pouco e aquelas imagens se repetiam em sua mente. Um homem de branco entrou no quarto segurando uma prancheta.

–Senhorita Brown, que bom que acordou.- Disse se aproximando.

–O que aconteceu? Há quanto tempo estou aqui?- Perguntou ansiosa.

–Você precisa ficar calma.

–Eu estou calma.- Disse o encarando.

–Você se lembra do acidente?

–Sim.

–Bom, você ficou em coma por alguns dias.

–O que?- Perguntou incrédula.- Onde está minha mãe? E o Robert?- Um sentimento forte a preencheu, fazendo-a ficar gelada como um cadáver. Ironia?

–Senhorita Brown, não está em condições de...

–Onde eles estão?!- O médico respirou fundo e tirou os óculos.

–Eu sinto muito, mas...não conseguimos salvá-los.- Um enorme desespero tomou conta de Harriet, não podia ser verdade.

–Não!- As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, e seu primeiro impulso foi se levantar rapidamente, mas havia algo errado, e ela só notara quando, com grande esforço, moveu seu corpo e automaticamente apenas seu tronco se mexeu.- O que?- Murmurou. Tirou o lençol que cobria suas pernas e se deparou com elas totalmente imóveis, por mais que tentasse, elas não se mexiam.

–Senhorita Brown.

–O que aconteceu comigo?!- Gritou enquanto chorava ainda mais.

–Quando o carro bateu, uma barra de ferro atravessou a porta e atingiu sua coluna...

–O que? Eu...eu...não vou poder mais dançar?- Perguntou enquanto encarava o médico.

–Eu receio que não.- Ela não acreditava no que estava acontecendo, desviou o olhar para baixo e cobriu seu rosto enquanto mergulhava em profundo rio de lágrimas.”


Seus fantasmas estavam a assombrando desde aquele dia, era como se tudo a fizesse lembrar-se do passado, ela queria esquecer, queria fingir que nada daquilo havia existido, para assim poder viver sem essa dor que permanecia em seu peito. Cada memória, cada pedacinho de si gritava para ela, a arrastando de volta como um imã.

Ela permanecia na banheira, imóvel, do mesmo modo que estava há trinta e cinco minutos, a água já esfriara, mas isso não importava para ela. O objeto prateado em suas mãos brilhava e a chamava, uma proposta tentadora a qual ela não conseguiria resistir. Deixou que seus fantasmas a visitassem uma última vez, mas agora ela se esquivaria da dor que eles a fariam sentir e apenas veria momentos, que por mais que a machucassem toda vez que se lembrava, eram felizes. Ela apenas fechou os olhos e fez o que tinha que fazer.

“Filha!- Disse a mulher agachada com os braços abertos para sua garotinha.- Você estava linda dançando!- Ela a abraçava forte.

–Quando eu crescer quero ser uma grande bailarina.

–Você vai.

–Te amo mamãe.- Falou aprofundando o abraço.

–Também te amo filha.

...

–Ah meus deus.- Disse estática enquanto olhava a carta que acabara de receber.

–O que foi filha?

–Mãe, eu ganhei a bolsa.

–O que? Eu não acredito. Parabéns filha!- As duas começaram a se abraçar e pular de alegria.

...

–Me desculpe.- Disse ao rapaz que acabara de esbarrar.

–Ah tudo bem. Ei, você é Harriet Brown?- Perguntou sorrindo.

–Sim.

–Nossa, você...dança muito bem.

–Obrigada.- Respondeu com um sorriso tímido.

–Ah, eu sou Robert, prazer.- Disse estendendo a mão.

–O prazer é meu. Você também dança muito bem.

–Obrigado.- Os dois sorriam bobamente.

...

–Harriet Brown para o papel de Gamzatti.- Uma alegria enorme preencheu seu corpo, ela podia ver o olhar feliz e orgulhoso de Robert.

...

–Eu te amo Harriet.

–Eu também te amo.”


O líquido vermelho escorria lentamente, a água e o piso completamente sujos por ele. Ela não queria mais viver para ser assombrada pelo seu passado, que insistia em voltar. Se ela não podia viver para o que amava, não queria mais viver. Descansaria com suas melhores lembranças.





Qual é o peso da nossa consciência? O suficiente para podermos sobreviver às nossas marcas? Mas e quando ela começa a pesar mais do que deveria? Ás vezes as marcas que deixamos são mais profundas do que se imagina. E quando elas estão fixas na sua mente remexendo dentro de você, na mesma medida que seu coração bate, e te lembrando a todo o momento que elas estão lá? Estão lá chamando seu nome, gritando por sua atenção, se contorcendo dolorosamente em você, o fazendo se sentir culpado por tudo aquilo que está lá e sentindo uma dor que não consegue controlar. Você sente vontade de abrir o seu peito e arrancar a força todos esses sentimentos, mas não pode, não consegue. E o que lhe resta a fazer? Aceitar os fatos e aprender a conviver com eles ou esperar que um golpe do destino vire o jogo?



–Investigador Collins?- Chamou um dos policiais.



–Sim?- Disse se levantando.


–Conseguimos algumas informações com os vizinhos.

–E então?

–Harriet Brown, parece que sofria de depressão e tomava remédios fortes. Parece que perdeu o movimento das pernas há alguns anos, uma vizinha que a ajudava disse que ela tinha parado de ir ao fisioterapeuta e o psicólogo, e também que fazia alguns dias que ela não a via, Harriet não atendia as ligações, não saia de casa...

–E aquele homem lá fora?

–Disse que era amigo de Harriet, disse que veio fazer uma visita, mas achou estranho ela não ter atendido a porta e nenhuma das ligações que fez avisando que viria.

–E a família dela?

–Fizeram uma busca no banco de dados, encontraram apenas um tio que mora no México, a mãe morreu no acidente que afetou as pernas dela.- O investigador olhou mais uma vez o corpo e depois deu um suspiro.

–Ok. Pode mandar recolher o corpo.- Disse se retirando do cômodo.

Depois de terminarem o trabalho, os policiais foram embora. O investigador policial James Collins foi para casa assim que terminou de resolver tudo, não trabalharia mais naquela noite.

Chegando em casa, James apenas acendeu a luz do corredor para que não tropeçasse em nada, foi até a cozinha pegou uma garrafa de Uísque, voltou para a sala, tirou sua arma da cintura a deixando sobre a mesa de centro, e se sentou na poltrona. Conforme enchia o copo e bebia, lembranças e sentimentos, bons e ruins invadiam seu corpo, conforme bebia ele encarava com os olhos cansados o retrato, que ele conservava com carinho na parede, que continha o rosto de uma bela mulher, a qual ele admirava e amava mais do que tudo.

Ele sabia que seu trabalho era em boa parte perigoso, e seu maior medo era que algo acontecesse e ele deixasse sua família sozinha, ele tinha que cuidar dela, ele prometeu. Mas às vezes as coisas saem do controle. James olhava para aquele quadro e sentia um vazio, uma angustia, uma culpa.

Um ano e alguns meses antes

–Olá!- Disse James entrando na cozinha.

–Oi!- Respondeu Mary indo abraçá-lo.- Por que não me avisou que ia almoçar em casa hoje? Eu teria feito algo especial.- Sorriu.

–Tudo o que você faz pra mim é especial.- Ela sorriu com a resposta.- Estava pensando em irmos a um pequeno restaurante perto do trabalho, o que acha?

–Ótimo, só vou pegar meu casaco.

Os dois entraram no carro e foram até o restaurante, durante o percurso eles conversavam e riam, pareciam um casal típico de novelas, as novelas mais clichês e apaixonantes que possam imaginar. Mas todas as novelas, até aquelas que têm os finais mais felizes, têm os seus “porém”, o clímax, o golpe do destino que pode destruir tudo em um piscar de olhos.

Enfim chegaram, entraram no restaurante e escolheram uma mesa.

–E então, está gostando da comida?- Perguntou James.

–É ótima, devíamos trazer Madison aqui.

–É uma boa idéia.- Sorriu.

De repente dois homens entraram no restaurante, pareciam duas pessoas normais, mas James sentiu que algo parecia suspeito. Os homens então sacaram suas armas e começaram a gritar.

–Ninguém se mexe! Entreguem tudo o que tiverem e nada de bancar o herói.- Mary olhou aflita para James, que encarava os homens.

–O que está olhando?- Disse um dos homens apontando a arma para James.- Façam o que eu mandei!

Mary e James entregaram seus objetos de valor assim como os outros clientes. Mas James não podia deixar isso assim, é claro que não, seu instinto policial falou mais alto, mais alto do que o olhar assustado de Mary, mais alto do que seus medos. James pegou sua arma e atirou em um dos homens que caiu no chão, o outro em um rápido reflexo atirou na direção de James, mas não o acertou, ele atirou novamente e atingiu o outro homem.

As pessoas que se jogaram no chão com medo, começaram a se levantar calmamente e seus olhares assustados, assim como James, se fixaram no corpo da mulher que acabara de levar um tiro.

–Mary?- Chamou aflito.- Mary!- Chamou novamente tomando o corpo em seus braços, as lágrimas começaram a cair junto ao peso de culpa.- Alguém chame uma ambulância!

A ambulância chegou apenas para levar o corpo e constatar o que no fundo James já sabia, sua bela esposa estava morta. O que ele diria a Madson? Como explicaria que Mary não voltaria mais?

A culpa e o desespero se remoíam dentro dele durante o enterro, por mais que quisesse esconder as lágrimas, elas eram bem visíveis, até mesmo por baixo dos óculos escuros que usava. Como ele pôde deixar que isso acontecesse? Como ele pôde deixar seu “heroísmo” à frente de sua família?”

Conforme o uísque descia por sua garganta, pensamentos e mais pensamentos o invadiam, ele não conseguia aceitar e conviver com a falta de Mary. E o que lhe restara fazer? Ele encarou a arma que estava na mesa. Seria assim que terminaria? Sua única opção seria enfiar uma bala na cabeça e acabar como Harriet? Não, é claro que não. James sabia que não podia fazer isso, tanto pelo fato de achar totalmente insano, quanto pelo fato de ter alguém que precisava dele.

–Papai?- Disse a garotinha esfregando os olhos de sono.

–Madson? O que está fazendo acordada?- Disse se levantando e indo em sua direção. Madson, sua pequena filha de seis anos.

–Não consigo dormir.

–Por quê?- Perguntou se agachando a sua frente.

–Tive um pesadelo.- Ela o encarava triste.- Com a mamãe.

–Madson, olha pra mim.- Segurou suas mãos.- Eu sei que você sente muita falta da mamãe, mas ela vai estar sempre com você e não vai mais deixar você ter pesadelos.

–Como?

–Você pode não ver, mas ela está sempre do seu lado, cuidando de você.- Ela o abraçou e James a pegou no colo.- Vou te colocar na cama.

James subiu as escadas com Madson no colo e a colocou na cama, ela dormiu em menos de cinco minutos, depois de ouvir algumas palavras doces de seu pai. James ficou sentado ao lado dela pelo resto da noite.

Ele não podia mudar o passado, não podia evitar que seus fantasmas o visitassem, os sussurros em seus ouvidos aos poucos seriam esquecidos e ele aprenderia a ignorá-los. Madson precisava dele e ela dela, o amor que tinha naquela família ainda não fora esquecido, e só ele poderia curar tudo. Ele poderia aprender a conviver com a verdade, a aceitar a realidade, poderia apagar toda a dor e a culpa que sentia, mas se isso aconteceria, só o tempo poderia dizer.



Às vezes as marcas que deixamos para traz, acabam criando outras, que nos perseguirão sem pestanejar. Às vezes quando deixamos algo, achando que podemos recomeçar, sem que os fantasmas voltem, estamos redondamente enganados. O que foi abandonado, de alguma forma ainda está lá, não vai simplesmente desaparecer como se nunca tivesse existido. Aquilo que abandonamos para partir em busca de novas perspectivas, pode voltar, mesmo que você não queira, sempre vai voltar, nos momentos em que menos esperar.

Enquanto voltava de táxi para casa, Jonathan Morinson ainda tentava absorver o que tinha acontecido com Harriet. Enquanto dava o depoimento à polícia, sua mente indagava-se, o modo como a encontrou, o simples fato de não poder mais ter as longas e agradáveis conversas, de não poder mais ser seu ombro amigo quando precisasse. Harriet e Jonathan eram amigos há muito tempo, ele já até havia lhe dado algumas de suas aulas de jazz, a qual Harriet chamava de instigante.

No dia do enterro, o sofrimento de Jonathan foi maior ainda, era o último adeus que daria a Harriet. Algumas coisas são difíceis de dizer ou de aceitar, mas as pessoas não partem sem deixar suas marcas, marcas essas que irão fazer com que se lembrem do seu ser da melhor forma possível.

Passaram-se três dias, Jonathan e sua amiga Margaret, uma professora de música, foram a um café perto de onde trabalhavam, eles precisavam esfriar a cabeça um pouco.

–Você está bem? Digo, em relação aos últimos dias.- Perguntou Margaret, e Jonathan, que estava cabisbaixo segurando seu capuchino, ergueu o olhar para respondê-la.

–Mais ou menos.- Suspirou.- Ainda é difícil acreditar que Harriet se foi assim.- Lamentou.

–É eu sei.- Murmurou.

–É melhor mudarmos de assunto.

–É.- Houve silêncio por alguns segundos.- Então...ouvi dizer que sua irmã está na cidade.

–Não quero falar sobre isso.- Falou desviando o olhar.

–Pensei que já tivessem se acertado.

–Não exatamente.

–Vocês se desentenderam de novo?- Ele deu um longo suspiro jogando a cabeça para traz, depois voltando a encarar Maragaret.

–Não temos nos falado bem, principalmente depois do que aconteceu há alguns meses.

–Como você está em relação a isso?

–Estou tentando conviver com o que aconteceu...mas, é tão difícil. É como se tudo fosse culpa minha.

–Jonathan.- O repreendeu.- Você não tem culpa de nada.- Segurou sua mão com delicadeza.- O que aconteceu foi porque tinha que acontecer, não tinha nada que você pudesse fazer.

–Foi culpa minha Margaret.- Se lamentou.- Quando mais precisavam de mim, onde eu estava? Aqui, longe deles. Eu os abandonei, e veja o que aconteceu.

–Você não vai poder se martirizar pelo resto da vida.- Conselhos? Que interessante.- Me desculpe, eu tenho que ir agora, estou atrasada.- Disse olhando em seu relógio.- Um velho amigo me pediu para tocar pra ele, faço isso toda semana.

–Ah, tudo bem.

–E Jonathan.- Falou enquanto se levantava.- Acho que realmente deveria se acertar com Joanne, ela só tem você.- Disse e foi embora. Jonathan foi logo em seguida.

Chegando em casa se jogou no sofá, queria descansar um pouco, a noite ainda iria para a academia ensaiar um pouco. Ele adorava passar todo o tempo que fosse fazendo aquilo que amava, mas como tudo tem um preço, no final de cada dia não podia deixar de pensar nos sacrifícios que teve que fazer para chegar aonde chegou.

Ligou a TV e fechou os olhos, as palavras de Margaret vinham em mente o fazendo repensar tudo o que tinha acontecido nos últimos anos. É claro que não era a primeira vez que seus fantasmas o visitavam, mas talvez agora, suas assombrações e a conversa com Margaret o estavam fazendo pensar mais.

"Dez anos antes

Mas nem pensar que você vai para Nova Iorque!- Dizia a mulher nervosa.

–O quê?! Você enlouqueceu? É uma grande oportunidade, deveria ter orgulho de mim.

–O que está acontecendo aqui?- Perguntou o homem entrando na sala.

–Richard diga ao seu filho que ele não pode ir morar em Nova Iorque.

–Como?

–Pai, eu recebi uma carta de uma das melhores faculdades de dança do país me oferecendo uma bolsa, e as aulas começam no próximo semestre, se eu não me apresentar perco minha vaga.

–Jonathan, você não pode tomar esse tipo de decisão assim, e, além disso, precisamos de você aqui.- Disse o pai.

–Fora que não temos dinheiro para essa viajem.

–Eu posso pagar a viajem com minhas economias, e vocês não precisam de mim aqui. E eu já tenho dezoito anos, sei tomar minhas próprias decisões.

–Você não vai.

–Não pode me impedir.- Disse isso e saiu, se trancando em seu quarto. Alguns minutos depois alguém bate na porta e entra.

–Jonathan?

–Saia daqui Joanne.

–Eu só quero conversar.- Ele a encarava com raiva.

–Veio me dar mais sermão?

–Não.- Respondeu se sentando na cama ao seu lado.- Não acha que já tivemos muita briga nos últimos anos?

–Diga isso a eles.

–Jonathan, nós precisamos de você, o pai precisa de você para ajudá-lo no trabalho, sabe que ele não está bem.

–E o meu futuro?

–Você já faz um bom curso de dança, e pode arrumar uma faculdade mais perto de casa.

–Joanne você não entende? Oportunidades como essa não aparecem duas vezes.

–Jonathan.- Suplicou.

–Já chega. Não quero mais falar sobre isso com você.- Se levantou indo até a porta, a abrindo.- Agora saia daqui.

–Você não sabe como magoa sua família.- Disse saindo.

Duas semanas se passaram, Jonathan estava decidido, nada o pararia. Mesmo com as súplicas de sua irmã e os protestos de seus pais, ele partiu sem olhar pra trás."


Já eram seis e meia, Jonathan havia acabado de chegar à academia. Ele ensaiou durante duas horas e depois parou para descansar. Sentado no chão com o celular em mãos, seus olhos se fixavam no nome de sua irmã que via na tela. Deveria ligar? Suas duras palavras ainda o machucavam, o machucavam ainda mais por serem a verdade, e distância de tantos anos não ajudava em nada.

"Oito anos antes

–Alô?

–Jonathan.

–O que você quer agora Joanne? Não estou afim de discutir hoje...espera, você está chorando?

–Jonathan é o pai.- Dizia ainda chorando.

–O que aconteceu?...Joanne?

–Ele morreu.

–O quê?

–Jonathan eu não quero atrapalhar a sua vida, mas precisamos de você aqui, o mais rápido possível.

–Ta, tudo bem, eu vou pegar o primeiro vôo.

–Jonathan foi para sua cidade natal o mais rápido que pôde. Durante o enterro ele estava estático, não derramou uma lágrima sequer durante o dia todo, sua mãe o encarava com desgosto, Joanne também não estava muito contente com o irmão. Depois do enterro todos foram para casa.

–Mãe?- Chamou-a se sentando ao seu lado no sofá.

–Por que não estava aqui quando precisamos de você?

–Você sabe que eu tenho muitos compromissos, não posso largá-los desse jeito.

–Ele era seu pai! Mesmo que você não estivesse aqui para apoiá-lo quando foi diagnosticado com câncer, tudo o que ele queria era ver o rosto do filho uma última vez. Mas você deu mais importância a outras coisas antes de sua família.

–Mãe...

–Saia daqui, preciso descansar.- Jonathan se levantou cabisbaixo e foi até a cozinha, onde estava Joanne sentada a mesa, ele sentou-se ao seu lado.

–Tem idéia de como foi difícil nos últimos dias? Tem idéia de como foi difícil pra ele saber que poderia partir antes de ver você?- O encarou com raiva.

–Não pensei que isso poderia acontecer.

–Você nunca pensa em nada. Sua família precisava de você.

–Joanne...me perdoa.

–Não posso.- Disse se levantando."


Sua consciência pesava mais do que tudo, ele encostou a cabeça na parede e algumas lágrimas começaram a escorrer. Como ele pôde abandonar sua família? Como pôde ficar longe quando deveria estar perto?

"Alguns meses antes

–Mas que droga Jonathan! Tudo o que estamos pedindo é que venha passar o Natal com sua família!

–Joanne, eu já disse que não posso.

–Ótimo, abandone sua família, afinal é isso o que você faz de melhor, e é apenas isso que tem feito nos últimos anos.

–Mas que dro...- Respirou fundo.- Vou ver o que posso fazer.

–Ótimo, se você não vier, não será surpresa nenhuma.

–Joanne...

–Cansei dessa conversa, te vejo no final de semana, TALVEZ.- Desligou o telefone sem dizer mais nada.

...

–Oi.- Disse escorado na porta.

–Achei que não viria.

–Eu disse que ia ver. Onde está a mãe?- Perguntou já entrando.

–Na cozinha.

–Mãe?- Chamou entrando na cozinha.

–Jonathan.- Falou indo abraçá-lo.- Que bom que veio. Quer comer alguma coisa?- Perguntou se afastando.

–Não estou com fome agora.- Ela assentiu.

–Pode por suas coisas no seu antigo quarto.- Ele assentiu e subiu. Terminou de arrumar suas coisas e voltou para a sala.

O final de semana foi mais tranqüilo que o esperado, o Natal com a família reunida foi agradável, mas o bom clima logo sumiria no dia seguinte.

–Tem mesmo que ir embora amanhã?- Perguntou a mãe.

–Sim.- Respondeu simplesmente.

–Poderia ficar até o Ano Novo.

–Mãe eu já disse que não posso. Com licença, tenho que chegar uns emails.- Disse e saiu para seu quarto.

–Eu vou falar com ele.- Disse Joanne segurando a mão da mãe e em seguida indo atrás de Jonathan.

–Jonathan.

–Não estou a fim de ouvir sermão Joanne.- Respondeu com os olhos fixos no laptop.

–Não vim te dar sermão.- Falou ríspida fechando o laptop de Jonathan.- A sua família sente falta de você. Faz muito tempo que não passa uns dias com a gente. A mãe precisa de você, de nós, é só o que ela tem.

–Joanne...

–Não Jonathan! Estou cansada de ouvir sempre a mesma história, você pode muito bem adiar seus compromissos por uns dias para ficar com sua família! Mas você não liga pra nada.

–Você não pode me dizer o que fazer da minha vida! Essa casa sempre foi um inferno, não tinha um dia em que não houvesse discussão!

–Como se você não soubesse o porquê.

–Falou a "Santa".

–Eu sei que já errei, mas eu sempre fiz por onde ter o carinho dos nossos pais, você só liga pra si mesmo. O pai morreu triste por sua causa!- Um silêncio desagradável tomou conta do lugar por alguns segundos.

–Nunca mais diga isso.

–Você sabe que é verdade. Você nunca está quando precisamos de você. A única coisa que ele queria era te ver nos últimos dias de vida, mas você preferiu ficar na sua droga de trabalho!

–Já chega! Vou embora daqui agora.- Sem pensar duas vezes, Jonathan jogou suas coisas de qualquer jeito na mala e desceu as escadas.

–Jonathan volte aqui!- Joanne segurou seu braço com toda força que pôde assim que chegaram na sala.

–Me larga!

–O que está acontecendo?- Perguntou a mãe aflita.- Jonathan, filho.- Chamou segurando seu rosto.

–Me deixem em paz.- Disse se soltando.

–Jonathan.

–Deixe ele ir. Ele não se importa com ninguém.- Falou com os olhos lacrimejados.

–Eu não me importo com ninguém? Vocês nunca ligaram para nada do que eu faço!

–Você é um egoísta que não merece a família que tem!

–Eu te odeio Joanne!- Algumas lágrimas escorreram pelo rosto de Joanne.

–Parem de brigar!- Suplicou a mãe.

–Ótimo. Vá embora daqui, não precisamos de alguém como você.- Respondeu com desgosto. Jonathan começou a caminhar em direção a porta.

–Filho.

–Não mãe.- Disse Joanne a segurando tentando acalmá-la.- Mãe?- A mulher colocou a mão no peito e começou a fraquejar, até que desmaiou.

–Mãe?!- Chamou desesperado indo em sua direção.

–Mãe acorda.- Pedia Joanne chorando. Os dois a chamavam em vão.

...

As lágrimas que estavam presas desde o enterro do pai, vieram com tudo no enterro da mãe, a dor e a culpa o tomaram por completo. Durante o velório não trocou uma palavra sequer com ninguém, depois de algumas pessoas irem embora, estavam apenas ele, Joanne, dois tios e uma tia. Apesar do peso que carregava, sabia o que tinha que fazer, mesmo que não desse certo.

–Joanne.- Disse se aproximando da moça sentada no sofá, que se levantou assim que o viu. O olhar de raiva de Joanne compenetrou a alma de Jonathan, seguido por um forte tapa no rosto, mais algumas lágrimas escorreram pelo rosto dele.

–Foi sua culpa. Sua culpa!

–Joanne...

–Eu não quero ouvir nada do que tem a dizer.

–Joanne por favor, me perdoa.

–Não! Eu nunca vou te perdoar, por nada do que você fez nos últimos anos!

–O que está acontecendo?

–Nada tio.- Disse enxugando algumas lágrimas.- É só que Jonathan já estava de saída.

–Joanne, vamos conversar.- Implorou.

–Não tenho nada para conversar com você.

–Ei, vocês são irmãos, não podem ficar assim, precisam um do outro.

–Ele não é meu irmão.- Respondeu fria. Aquilo atingiu Jonathan como um golpe, o golpe mais forte que poderia ser dado em alguém, pior que um soco no estômago ou um golpe de espada."


Jonathan estava encolhido na parede enquanto chorava desamparado. De repente sentiu uma mão tocar seu ombro e viu alguém se agachar a sua frente, ele ergueu o rosto e mal pôde acreditar no que viu. A moça sorria para ele enquanto enxugava suas lágrimas.

–Sentiu minha falta?

–Você não imagina como.- A abraçou forte.- O que está fazendo aqui?

–Eu encontrei com sua amiga Margaret, ela me disse que você não estava nada bem, não podia te deixar assim.

–Pensei que me odiasse.

–Acho que já está na hora de acabarmos com isso, antes que seja tarde.

–Joanne, me perdoa?- Implorou com a voz embargada. Ela apenas assentiu sorrindo e o abraçou novamente, dessa vez mais forte e com algumas lágrimas escorrendo, assim como ele.

–Eu te amo Jonathan.- Declarou baixo fechando os olhos.

–Também te amo Joanne.

Talvez não seja tarde para nos redimirmos, talvez não seja tarde para expulsar os fantasmas que te trazem agonia dia após dia, só depende de nós, antes que seja tarde. Pois quando for tarde demais, os fantasmas que te assombram, virão te buscar, e a dor agonizante do passado voltará com tudo, o fazendo sofrer como nunca sofreu antes, e você passará a eternidade com os fantasmas gritando incansavelmente em seus ouvidos.




Algumas vezes os fantasmas que nos assombram podem trazer de volta sentimentos que gostaríamos de esquecer. Mas como? Como esquecer sentimentos tão fortes, que até você mesmo se perguntava se eram reais? Como esquecer pessoas que passaram por nossas vidas e deixaram profundas marcas em nós, tanto boas quanto ruins? Como uma triste melodia tocando em nossas mentes, essas lembranças, esses sentimentos, tudo de uma vez, voltam, e você se pergunta o porquê de ter que reviver tudo isso. Por que não podemos simplesmente esquecer?

Enquanto tocava a doce melodia para o senhor Lewis, Margaret Willians se lembrava dos momentos especiais que havia passado, cujo quais eram tão especiais para ela, que essa melodia era uma das que tinha composto, inspirada por esses momentos. Mas uma pequena pontada atingia seu coração, toda vez que via os inúmeros corações desenhados naquele caderno de composições, ou quando via a marca da foto rasgada que ela arrancara da parte de dentro da capa do mesmo.

Depois de tocar durante uma hora, ela foi embora, não queria ficar em casa, e como não tinha mais trabalho a fazer decidiu dar algumas voltas pela cidade. A jovem professora de música adorava buscar inspiração no Central Park, era um lugar calmo e bonito, onde ela podia relaxar e compor suas melodias.

Mas havia algo que a incomodava, poderia ser o fato dos casais felizes passarem a sua frente, como se esfregassem na sua cara o que tinha acontecido, ou talvez o fato daquele banco perto do pequeno lago ainda estar ali, vazio, como se esperasse que ela fosse até ele e resgatasse a boas lembranças, se é que ainda existiam. Aquelas imagens ainda estavam nítidas em sua mente, mas não como boas lembranças, e sim, como imagens que serviam como motivo de desgosto, ódio, dor e tristeza.

Seis anos antes

Os jovens estavam sentados naquele banco, felizes, o rapaz dizia belas palavras à moça, até que finalmente disse o que ela queria ouvir.

–Margaret quer casar comigo?- Ela o olhava espantada e alegre ao mesmo tempo, com um enorme sorriso estampado no rosto.

–Sim!- O abraçou e o beijou com todo amor.

...

Ah, como o tempo passa rápido não é mesmo? Alguns meses depois, Margaret e Willian estavam no cartório, felizes. Ainda eram bem jovens, mas quem se importava?

–Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva.- Completaram a cerimônia enfim. Para Margaret esse casamento prometia, mas ela mal sabia o que lhe esperava lá na frente.”


Margaret andava pelo mercado procurando algo para jantar, e uma surpresa um tanto desagradável apareceu diante de si.

–Oh, me desculpe.- Disse ao homem com quem tinha se esbarrado, e no mesmo instante congelou como se tivesse visto um fantasma. A vida tem suas ironias, não é?

–Margaret? Nossa, você está...diferente.- Sorriu.

–Oi Willian.- Respondeu seca.

–Querido vamos?- Apareceu uma mulher segurando seu braço.- Oh.- Disse encarando Margaret.

–Eu já vou.- Respondeu sorrindo, a mulher foi para a fila do caixa, mas antes analisou Margaret de cima abaixo e depois deu um risinho sarcástico.- Como você está?

–Muito bem, obrigada. Vejo que vocês estão muito bem.- Comentou apontando com o olhar a mulher de Willian.

–É.- O sorriso ainda não sumia de seu rosto.

–Bom, se me dá licença, tenho coisas a fazer.- Disse saindo de perto dele.

–Ei, até parece que não quer falar comigo.

–Não tenho nada para falar com você.- Disse isso, e foi embora.

No dia seguinte, levantou cedo e já se sentou a frente de seu piano e começou a tocar, muitos pensamentos rondavam sua mente. Ela se lembrava do que acontecera no dia anterior. Por que isso a incomodava tanto? Por que não conseguia apagar aquelas memórias? O que passou, passou, mas para ela ainda era difícil aceitar. Onde ela errou? Será que merecia aquilo?

Um ano e meio antes

–Alô?

–Amor? Você não vai vir pra casa?

–Vou ficar até mais tarde hoje.

–Você tem trabalhado demais. Não é melhor vir pra casa descansar cedo? Só um dia. Sinto falta de jantar com você.- Disse amorosa.

–Margaret não vai dar...Tenho que desligar agora.

–Tudo bem.- Disse desapontada.- Eu te amo.

–Tchau Margaret.- Desligou. Margaret não conseguia entender o que estava acontecendo.

...

Duas semanas se passaram, Margaret havia chegado a uma conclusão e exigiria sérias explicações de Willian. Ela notou que ele estava estranho nos últimos meses, estava distante, seu comportamento em relação a ela havia mudado, mas preferiu não criar confusões por causa disso, achou que fosse algo plausível, como o trabalho, mas isto já estava indo longe demais. Assim que chegou em casa foi recebido por Margaret, que o esperava na sala.

–Willian, precisamos conversar. Tenho algo importante a dizer.- Se levantou, ele colocou sua maleta em um canto e a fitou.

–Ótimo, pois também tenho algo a dizer.- Seu tom de voz estava mais seco, Margaret estranhou, mas não ligou muito.

–Eu não agüento mais isso.

–Isso o que?

–Isso que você está fazendo. Eu fingia que não via porque não queria brigar com você, mas agora não dá mais. Você está distante, frio, indiferente, tem chegado tarde em casa, você nem passa mais tempo comigo, não é o mesmo Willian que eu conheci há alguns anos atrás, e por isso quero que me diga o que está acontecendo. E por favor, não me diga de novo que é o trabalho, porque eu sei que isso não te mudaria dessa maneira.

–Você quer a verdade não é?- Ela assentiu com a expressão nervosa e os braços cruzados.- Pois é exatamente isso o que eu queria te dizer.- Seu tom indiferente já não era mais surpresa.

–Estou ouvindo.

–Eu vou embora Margaret.

–O quê?- Um tom de confusão tomou conta de si.

–Isso mesmo que você ouviu.

–Por quê?

–Eu me apaixonei por outra, Margaret.- Um desespero misturado com mágoa preencheu Margaret.

–Eu não acredito.- Disse com os olhos marejados.

–Pois é Margaret. Ela é diferente de você, ela me dá tudo o que já cansei de pedir a você.

–Como assim Willian?

–Ela não vive focada no trabalho como você, e se esquece do marido, ela não está presa no mundinho dela ao invés de dar atenção a mim e a casa...

–Willian! Você sabe que eu adoro o meu trabalho e que eu nunca me esqueci de você, eu sempre tentei fazer de tudo para você ser feliz, para nós sermos felizes.

–Não é tão simples.

–Como?! Como não é tão simples?

–Ela está grávida Margaret.

–O que?- Ela encarou o chão por alguns segundos.- Então é por isso, não é? Você sabia muito bem que eu não poderia te dar filhos! E por isso você correu atrás de outra?- Perguntou indignada.

–Oras, Margaret não faça drama.

–Não fazer drama? Quantas vezes eu te pedi para adotarmos um filho e você disse não?

–Não é só por isso que estou com ela. Como eu já disse, ela é diferente de você, o que eu sinto por ela não se compara.

–Então é isso?- Perguntou já chorando.- É assim que você quer terminar tudo, me dizendo que está apaixonado e vai ter um filho com uma vagabunda qualquer?!

–Margaret!

–Cale a boca! Eu não sei como pude ser tão burra a ponto de me apaixonar por você. Quer dizer que durante todo esse tempo você me enganava? Você fingia me amar?- Respirou fundo e depois continuou.- Você quer ir embora? Ótimo você vai embora. Agora.

Margaret subiu correndo as escadas, seguida por Willian, pegou o máximo de roupas que pôde, colocou em uma mala e jogou contra ele.

–Vá embora daqui!- Disse enquanto o empurrava até a porta.

–Não pode me expulsar assim!

–Ah eu posso.- Quando disse isso, Willian já estava do lado de fora.- E não se preocupe em vir buscar as suas porcarias, pois amanhã mesmo estará tudo na rua esperando você!- Então voltou para dentro e bateu a porta com força, e Willian foi embora.

Ela ficou encolhida no sofá chorando por horas, era demais para ela. Como ele pôde fazer isso? Anos de sentimentos desperdiçados com uma pessoa que não merecia. Agora tudo fazia sentido, as discussões que Willian começava, a falta de carinho, as curtas conversas. Tudo o que Margaret esperava ter em seu casamento ocorreu ao contrário. Depois daquilo Willian não voltou mais.”


Algumas lágrimas caíram sobre o piano, lágrimas que ela queria evitar, mas não podia, não conseguia. Enxugou as lágrimas rapidamente assim que ouviu alguém bater a porta.

–Jonathan, oi. Entre.- Ele o fez e sentou no sofá seguido por Margaret.

–Margaret você está bem?- Perguntou preocupado.

–Por que não estaria?- Disfarçou um sorriso.

–Por que está com os olhos vermelhos e úmidos?- Perguntou tocando seu queixo para que ela o encarasse.

–Não é nada, é que...eu encontrei Willian ontem.

–Vocês conversaram?

–Mais ou menos, não exatamente.

–E por que você está assim?

–Você sabe Jonathan, é difícil conviver com tudo o que aconteceu, é difícil esquecer tudo o que ele me fez.- Seus olhos marejaram.

–Ei.- Segurou suas mãos.- Você não pode se martirizar pelo resto da vida.- Margaret riu ao se lembrar do que tinha dito.- Não importa o que o Willian fez, você não pode deixar que isso atrapalhe sua felicidade. Ele deve estar muito bem sem você, não é?- Ela assentiu.- Então por que você não pode ficar bem também?

–Eu não sei...Eu não consigo.- Suspirou.- Podemos parar de falar dele?

–Ta, claro.

–Você está melhor?- Perguntou, o encarando nos olhos dessa vez.

–Muito. Eu...falei com Joanne.

–Isso é ótimo.- Sorriu.

–Ela me disse que encontrou com você.

–É...bem, ela foi me procurar no meu estúdio. Ela não tinha como falar com você, já que você mudou o número do celular. Ela me perguntou sobre você, e eu disse a verdade...Vocês se acertaram?

–Sim.- Respondeu sorrindo, Margaret também sorriu.

–Bom, pelo menos um de nós consegue superar o passado.- Ficou cabisbaixa.

–Ei.- Segurou seu rosto a fazendo encará-lo.- Eu perdi muita coisa, sofri demais, mas agora que eu consegui me entender com Joanne, não vou desperdiçar o tempo que tenho sofrendo. E você deveria fazer o mesmo, você não perdeu nada demais, Willian não fez por merecer uma pessoa maravilhosa como você, e quem perdeu foi ele.- Margaret sorriu com o elogio.

–Obrigada...Você deve ser uma das únicas e poucas pessoas com quem posso realmente me abrir.

–Não precisa agradecer.- Sorriu.- Você também foi um ombro amigo sempre que precisei, não acho que poderia encontra alguém como você em qualquer lugar. E...sabe o que eu acho?

–O que?

–Que você deveria parar de pensar no Willian e se dar uma nova chance para encontrar alguém que realmente goste de você.

–Você fala como se fosse fácil.

–Eu sei que não é. Mas acho que se você abrisse seus olhos, poderia ver que está mais perto do que você pensa.

–O que quer dizer?

Jonathan colocou a mão no rosto de Margaret delicadamente e foi se aproximando lentamente, ela não entendeu no início, mas, quando seus lábios se tocaram, ela percebeu que talvez a amizade que tinha com Jonathan poderia ser algo a mais, talvez tivesse que ser assim, só que ainda não era o momento. Margaret passou os braços pelo pescoço de Jonathan, que segurou em sua cintura. Aquele beijo talvez fosse tudo o que precisavam naquele momento, talvez fosse o que precisavam a muito tempo, um turbilhão de sentimentos tomou conta dos dois, mas era algo bom, uma sensação nova e completamente boa.

Mesmo que o passado insista em te assombrar, talvez ainda haja um jeito de fazê-lo sumir, talvez haja um jeito de acalmar e curar seu coração. Mesmo que você não veja, a solução para tudo talvez esteja mais perto do que pensa. Mesmo que você não consiga se desprender de suas marcas, você ainda pode encontrar um jeito de fazê-las desaparecer da sua mente e criar um espaço no seu coração para a felicidade que de alguma forma você acreditava que não seria possível.




Tempo. O que essa palavra significa para nós? Dizem que o tempo cura todas as feridas e faz com que o passado fique para trás. Mas será verdade? Bom, para alguns até pode ser, mas, como devem saber, nada pode ser apagado, ainda está e sempre vai estar lá. E o que você pode fazer? Você pode fingir que ele não está lá e aprender a conviver com isso, ou pode ser fraco o suficiente para deixar que suas emoções te aprisionem em mundo que só o fará sofrer. Mas, e quando nosso tempo, como todas as coisas, chega ao fim? Será que tudo o que vivemos foi em vão ou será que o fim do tempo é apenas outra de tantas adversidades que temos que enfrentar. Será que quando nosso tempo acaba, todas as nossas memórias se vão, assim, sem mais nem menos? Ou podem ainda ser conservadas, mesmo que você não tenha mais tempo? E os nossos fantasmas? Para onde vão? Afinal de contas não poderão nos assombrar como antes. Mesmo, que não fiquem presos a nós depois, eles ainda podem nos assombrar até o último minuto. Mas são apenas as assombrações que não agüentamos que podem nos visitar ou toda uma vida, com todas as coisas boas e ruins, poderia ser lembrada como se passasse um filme na nossa mente? Poderíamos de repente ver uma vida inteira passando diante dos nossos olhos e lembrar de tudo o que carregamos por tanto tempo sem nos dar conta?

–Maravilhosa.- Comentou o senhor Lewis com um leve sorriso.

–Obrigada senhor Lewis.

–Já disse que pode me chamar só de Michael.- Sorriu.

–Desculpe. Então, como está se sentindo Michael?

–Bem, por enquanto...Não é fácil ser um velho.- Brincou, Margaret deu um leve sorriso.

–E a sua tosse?

–Praticamente na mesma.

–Entendo...Sua enfermeira me disse que hoje não queria tomar os remédios e que queria sair.

–É, você me pegou.

–Michael...- O repreendeu.

–Em minha defesa foi por uma boa causa.

–Ah é?- Arqueou uma sobrancelha.

–Não quero passar meus últimos dias enfurnado em um quarto.

–O senhor tem que se cuidar.

–Eu quero aproveitar enquanto ainda posso, afinal, não quero que minha última lembrança sejam as paredes brancas e o silêncio.- Ela assentiu, não podia contestá-lo quanto a isso. Afinal, quem quer passar o tempo que lhe resta deitado em uma cama de um asilo enquanto escuta os ecos da morte chamando seu nome? Houve um pequeno silêncio.- Você lembra minha filha. Bonita, delicada e forte.- Sorriu, Margaret sorriu de volta.

–Ela deve ter sorte de ter alguém como você.

–Não a vejo muito, assim como meus outros filhos.

–Por quê?

–Ela é arquiteta e está morando na Inglaterra, mas me liga bastante.

–E seus outros filhos?

–O mais velho mora na Califórnia, por isso só pode vir de vez em quando, e o mais novo mora aqui, mas também só vem às vezes. Eles têm trabalho e família para cuidar, só vêm quando têm tempo...Mas sabe, semana passada eles me fizeram uma surpresa, todos eles vieram juntos me ver e passaram a semana inteira comigo.- Sorriu.- E enquanto eles não estão aqui eu tenho você.- Margaret segurou sua mão.- Deveria vir mais vezes.- Pediu sorrindo.

–Se o senhor insiste, não vejo por que não.- Sorriu, Michael se entusiasmou, abrindo mais ainda seu sorriso.- O que é isso?- Perguntou pegando a foto que Michael carregava.

–É uma foto minha e da minha esposa, meus filhos me trouxeram. Fazia tanto tempo que eu não via essa foto, nem me lembrava mais dela.

–Sente muito a falta dela?

–Ás vezes.- Suspirou.- Mas eu gosto de lembrar dos momentos felizes que tivemos. Mesmo que ela não esteja aqui eu ainda me lembro de tudo o que passamos. De como a conheci, de quando nos casamos, ou quando tivemos nossos filhos.

–Gosta de se lembrar do passado?

–E por que não gostaria?- Disse intrigado.

–Não sei...Talvez porque...existam coisas que possam te decepcionar.

–Por mais que o passado possa doer às vezes, nós temos que aprender a viver sem que ele nos atrapalhe. Eu, por exemplo, me lembro de tudo o que passei, cometi erros, sofri, mas também, acertei e fui feliz.- Margaret o olhava atentamente.- Você não pode ficar sofrendo e deixar de lado uma parte da sua vida por causa de algo que aconteceu no passado, eu sei que é difícil, mas você deve tentar.- Margaret sabia exatamente do que ele estava falando, já conhecia Michael o suficiente para poder desabafar de vez em quando.

–Com licença.- Pediu a enfermeira entrando no quarto.- Sinto muito, mas o senhor Lewis precisa descansar agora.

–Não pode nos dar mais alguns minutos?- Pediu Margaret.

–Sinto muito, mas minha chefe não vai gostar que eu prolongue os horários de visitas.- Explicou.- Mas a senhorita pode vir amanhã, posso deixá-la ficar o tempo que quiser.- Sorriu.

–Feito.- Se levantou sorrindo.- Quer que eu o acompanhe até seu quarto Michael?

–Não querida, ainda posso andar.- Brincou.- É melhor você ir pra casa descansar.

–Claro.- Começou a caminhar até a porta. De repente parou e se virou.- E Michael...Obrigada.- Ele assentiu sorrindo.

...

Michael se deitou em sua cama e ficou ali lendo um livro que sua filha havia lhe mandado da Inglaterra. Michael se lembrava avidamente do rosto de sua bela filha Samantha, especialmente seus belos olhos azuis, cujo quais herdara de sua mãe. A jovem sempre lhe telefonava e mandava presentes, e vez ou outra vinha visitar o pai. Seus outros filhos, Joseph e Patrick vinham vê-lo de vez em quando, Joseph que era advogado na Califórnia não tinha tempo sempre para viajar para ver o pai, apenas algumas vezes por ano, talvez Patrick fosse o que conseguisse ver Michael com mais freqüência já que trabalhava em uma empresa em Nova Iorque.

Michael tinha tantas lembranças de seus filhos, de sua infância, dos sacrifícios que fez para criá-los, dos problemas com a adolescência, tantas memórias boas.

A esposa de Michael havia morrido alguns anos antes, as memórias que ele tinha dela eram dos momentos alegres que tiveram, de como se conheceram em uma biblioteca, do seu casamento em Chicago, todos os momentos que teve ao seu lado.

Os fantasmas de Michael o visitavam freqüentemente, mas não era de todo mal, afinal, ele se recordava dos momentos bons, de tudo o que aprendeu, de tudo o que teve que passar para ir atrás de seus sonhos, dos erros que cometeu, das dores que sentiu, de tudo o que amou e ainda ama, e essas lembranças mesmo que tivessem momentos não tão agradáveis, faziam Michael relaxar, e pensar em como não mudaria nada do que viveu. Ele adorava essas memórias, pois eram sua vida. Mesmo que soubesse que não duraria para sempre, ele sabia que suas lembranças seriam eternas.

Michael fechou o livro e se ajeitou na cama. Sua saúde não andava boa nos últimos tempos, mas ele não se importava. Ele não mudaria nada do que viveu, não queria esquecer nada. Sua vida então começou a passar em sua mente como um filme, um filme espetacular, o qual ele adorava. E enquanto aquelas imagens passavam, ele se via feliz. Finalmente fechou seus olhos para poder descansar pelo resto da eternidade, onde viveria suas melhores lembranças.

Todos nós temos fantasmas que nos assombram com nossas memórias do passado, mas poucos sabem contornar as más lembranças e ver tudo o que já foi vivido e que lhe causou bem. Muitos não conseguem deixar para trás o passado e abandonar a dor, para só assim conseguir seguir em frente. Muitos não aceitam o que aconteceu, mas sabem que sempre há uma solução. Outros se culpam por tudo o que aconteceu e não conseguem esquecer, até que consigam enxergar que não é tarde para se redimir. Alguns se prendem ao passado e não se deixam viver a felicidade que tanto querem, por não aceitarem os fatos e não reconhecerem que merecem uma segunda chance. E outros abrem as portas alegremente para que seus fantasmas tragam de volta sua Vida, tragam de volta tudo aquilo mais se preza, não se pode deixar sua vida para trás, não se pode apenas focar em um lembrança quando existem várias outras que como um todo compõe a essência do seu ser.

Quando as sombras do passado insistem em nos perseguir, não adianta tentar fugir, elas sempre vão estar lá. Mas depende de você fazer com que elas não sejam apenas fantasmas desagradáveis, mas sim, doces brisas que sopram em sua mente a parte boa de sua vida.

***

Memórias

Não são só memórias

São fantasmas que me sopram aos ouvidos

Coisas que eu nem quero saber.

                                          Memórias – Pitty


Nenhum comentário:

Postar um comentário